Portugueses na América: Conquista e Colonização
Os Povos que os Portugueses Encontraram
Antes de 1500, o Brasil não era um vazio. O território era chamado de Pindorama ("Terra das Palmeiras") por muitos povos do tronco linguístico Tupi. Milhões de pessoas, divididas em centenas de etnias (como os Tupi, os Jê/Tapuias, os Aruaques e os Caraíbas), viviam aqui. Cada povo tinha sua própria língua, seus costumes, sua religião e sua forma de se organizar. Eles viviam da caça, da pesca, da coleta e de uma agricultura de subsistência, baseada na mandioca.
O "contato com o outro" foi um verdadeiro choque de mundos. Os portugueses, com sua cultura europeia e cristã, não compreendiam o modo de vida indígena. Para eles, os nativos eram "selvagens" porque andavam nus, não tinham um rei, não conheciam a propriedade privada e não buscavam acumular riquezas. Essa visão, chamada de eurocêntrica (que vê a Europa como o centro e modelo para o mundo), serviu como justificativa para a dominação, a violência e a imposição da cultura e da religião europeias.
A Conquista e o Início da Colonização
De 1500 a 1530, no chamado Período Pré-Colonial, Portugal não demonstrou grande interesse em ocupar o Brasil. O foco era o lucrativo comércio de especiarias com as Índias. A única atividade econômica aqui era a extração do pau-brasil, madeira de cor avermelhada muito valiosa na Europa para tingir tecidos de luxo. A exploração era feita por meio do escambo: os indígenas cortavam e empilhavam as toras de madeira na praia e, em troca, recebiam dos portugueses objetos que para eles eram novidade, como espelhos, facas e machados de metal.
A colonização de fato só começou a partir de 1530. O motivo principal foi o medo de perder a terra para outros países, principalmente a França, que enviava navios para contrabandear pau-brasil. Para garantir a posse, o rei de Portugal decidiu ocupar a terra. O primeiro sistema foi o das Capitanias Hereditárias (1534), que dividiu o litoral em 15 enormes faixas de terra, entregues a nobres portugueses (os donatários). A maioria fracassou pela distância, falta de recursos e ataques indígenas. O fracasso levou à criação do Governo-Geral em 1549, um sistema mais centralizado para administrar a colônia.
Escravidão e Resistência Indígena
Com o início do plantio de cana-de-açúcar, os portugueses precisavam de muita gente para trabalhar. A solução foi forçar os indígenas ao trabalho, ou seja, escravizá-los. Para justificar isso, eles usavam o conceito de "guerra justa": se um grupo indígena atacasse um colono, era "justo" escravizá-lo como prisioneiro. Isso, claro, virou um pretexto para organizar expedições (bandeiras) que caçavam e aprisionavam indígenas.
A resistência foi imensa. Os indígenas lutaram de várias formas: com guerras e ataques a vilas, com fugas para o interior e, principalmente, com a recusa cultural, mantendo suas crenças e costumes vivos. Também fizeram alianças com os inimigos dos portugueses, como os franceses e holandeses. Os aldeamentos jesuítas eram missões religiosas onde os padres reuniam os indígenas para catequizá-los. Por um lado, os protegiam da escravidão brutal dos colonos, mas, por outro, destruíam sua cultura original, sua língua e sua liberdade.
O Nordeste Açucareiro
A produção de açúcar foi a principal atividade econômica do Brasil por quase dois séculos. O Nordeste, com seu clima quente e úmido e o solo escuro e fértil chamado massapé, era o local perfeito. A produção era feita em enormes fazendas chamadas engenhos.
A sociedade do engenho era extremamente desigual. No topo, com todo o poder, estava o senhor de engenho, dono das terras, das instalações e das pessoas escravizadas. Ele vivia na Casa-Grande. Abaixo dele, havia poucos trabalhadores livres, como o feitor (capataz que vigiava os escravos) e o mestre-de-açúcar. A base de tudo era formada pelos africanos escravizados, que viviam amontoados na Senzala e realizavam todo o trabalho pesado, desde o plantio e corte da cana até a produção do açúcar na moenda. Era uma sociedade patriarcal (o poder do homem era absoluto sobre a família e os dependentes) e sem mobilidade social.
Os Potiguaras, um povo indígena forte do Nordeste, são um grande exemplo de resistência. Eles lutaram ferozmente contra os portugueses e se aliaram aos holandeses quando estes invadiram Pernambuco no século XVII, na esperança de expulsar o inimigo comum.
As Terras do Atlântico Interligadas pela Escravidão
Trabalho Escravo e o Tráfico Negreiro
O trabalho compulsório foi a base da economia colonial. É importante diferenciar: na servidão (comum na Europa feudal), o servo estava preso à terra, mas não era uma propriedade. Já na escravidão moderna, que ocorreu nas Américas, a pessoa era coisificada, transformada em uma mercadoria que podia ser comprada, vendida, marcada a ferro e torturada. Essa escravidão foi justificada por uma ideologia racista, que afirmava que os negros africanos eram "inferiores".
O tráfico negreiro foi o comércio de seres humanos que alimentou esse sistema. Foi um dos negócios mais lucrativos da época. Milhões de homens, mulheres e crianças foram capturados na África e forçados a atravessar o Oceano Atlântico em navios superlotados e em condições terríveis, chamados de tumbeiros (tumbas flutuantes), pois cerca de 20% morriam na viagem.
O Tráfico Transatlântico
Portugal usou sua experiência em navegação para instalar feitorias (postos comerciais fortificados) na costa da África. Ali, eles não entravam para caçar pessoas, mas negociavam com reinos e comerciantes africanos. Em troca de produtos europeus como armas de fogo, tecidos, tabaco e aguardente, esses reinos africanos vendiam prisioneiros de suas guerras internas. O tráfico aumentou enormemente a escala da guerra e da violência na África. O Brasil foi o país que mais recebeu africanos escravizados em todo o mundo, com quase 5 milhões de pessoas desembarcando aqui ao longo de 350 anos.